Caso Ruy Fontes: Polícia Prende Peça-Chave na Logística do Assassinato
Mulher de 25 anos foi detida sob suspeita de transportar um dos fuzis utilizados na execução do ex-delegado-geral. Em seu celular, a polícia encontrou imagens das armas do crime.
Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101
SÃO PAULO – A investigação sobre a execução do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes teve seu primeiro avanço significativo com a prisão de uma mulher de 25 anos, identificada como Dahesly Oliveira Pires. Detida temporariamente na madrugada desta quinta-feira (18), em Diadema, na Grande São Paulo, ela é apontada pela polícia como uma peça-chave na complexa logística montada para o assassinato.
Segundo o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Dahesly foi responsável por transportar um dos fuzis de alta potência usados pelos assassinos. A investigação apurou que ela se deslocou da capital paulista até a Baixada Santista em um carro de aplicativo com a missão de buscar a arma. Após a execução de Fontes, ela teria levado o fuzil de volta para a região do ABC Paulista.
A suspeita, que se declarou namorada de um dos executores já identificados e foragidos, foi interrogada na sede do DHPP na noite de quarta-feira (17). Em seu depoimento, ela alegou ter sido contratada para buscar um "pacote", afirmando desconhecer o conteúdo. A versão, contudo, não convenceu os investigadores, especialmente após a análise de seu aparelho celular, onde foram encontradas fotografias dos fuzis que seriam usados no crime. Diante das evidências, a Justiça acatou o pedido de prisão temporária.
"Temos a primeira prisão relacionada ao assassinato do Dr. Ruy", declarou o Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. "Trata-se de uma mulher de 25 anos, presa temporariamente, responsável por levar da Praia Grande para a região do ABC um dos fuzis usados no crime."
A prisão de Dahesly representa um passo crucial para desvendar a rede de apoio que permitiu a emboscada cinematográfica ocorrida na noite da última segunda-feira (15), em Praia Grande. Ruy Ferraz Fontes, de 63 anos, que atuava como Secretário de Administração do município, foi perseguido por criminosos, teve seu carro alvejado por mais de 20 tiros de fuzil e morreu no local após colidir com um ônibus em uma tentativa desesperada de fuga.
Fontes era uma figura emblemática no combate ao crime organizado em São Paulo. Durante sua longa carreira na Polícia Civil, foi um dos responsáveis por mapear a estrutura hierárquica do Primeiro Comando da Capital (PCC) nos anos 2000, indiciando líderes como Marco Willians Herbas Camacho, o "Marcola". Sua atuação o colocou na lista de principais inimigos da facção, e a principal linha de investigação para sua morte continua sendo a de uma retaliação orquestrada pela cúpula do grupo.
Enquanto a força-tarefa composta pelas polícias Civil e Militar segue em busca dos dois executores diretos, que continuam foragidos, a prisão de Dahesly Oliveira Pires abre um novo flanco na investigação, mirando agora nos coadjuvantes que forneceram os meios para o atentado. A análise de seu celular e de seus contatos pode levar os investigadores a outros membros da célula criminosa e, eventualmente, aos mandantes do assassinato que chocou o país e desafiou o Estado.
JARDEL CASSIMIRO