Lula na ONU: Reforma da Governança Global e Urgência Climática Pautam Discurso de Abertura
Em sua tradicional fala na Assembleia Geral, presidente brasileiro deve defender mudanças profundas no Conselho de Segurança, cobrar ações concretas contra as mudanças climáticas e reafirmar o compromisso do Brasil com o multilateralismo.
Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101
NOVA YORK – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobe ao púlpito da Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (23) para um dos discursos mais aguardados de seu mandato. Como chefe de Estado da nação que tradicionalmente abre o Debate Geral, Lula terá a atenção do mundo para uma fala que promete ser contundente na defesa de uma nova ordem global, mais justa e preparada para os desafios do século XXI.
A expectativa em torno do pronunciamento é alta. Fontes diplomáticas indicam que o eixo central da mensagem de Lula será um apelo por uma ampla e corajosa reforma da própria ONU. O presidente deve argumentar que a estrutura de governança global, concebida no pós-Segunda Guerra Mundial, já não responde às complexidades do mundo atual, marcado por crises interconectadas que vão do clima à geopolítica.
Nesse contexto, a reforma do Conselho de Segurança, uma bandeira histórica da diplomacia brasileira, será um dos pontos de maior ênfase. Lula deve defender a ampliação do número de membros permanentes e não permanentes para tornar o órgão mais representativo e democrático, refletindo a ascensão de novas potências e a necessidade de um equilíbrio de poder mais multipolar. A mensagem é clara: o mundo não pode mais esperar por outra tragédia de escala global para atualizar suas instituições.
Outro pilar do discurso será a urgência climática. O presidente brasileiro usará a tribuna para expor a vulnerabilidade do planeta, citando os recentes desastres que abalaram o Brasil, como enchentes, secas e incêndios florestais. A fala servirá não apenas como um alerta, mas também como um chamado à responsabilidade das nações desenvolvidas, cobrando o cumprimento de promessas de financiamento climático e ações mais ambiciosas para a redução de emissões. O discurso também funcionará como um prelúdio para a COP-30, que será sediada em Belém, no Pará, posicionando o Brasil como um ator central nas negociações ambientais.
Além das grandes reformas estruturais, a agenda de Lula em Nova York inclui a defesa do multilateralismo e da democracia como ferramentas indispensáveis para a paz. O presidente participará da segunda sessão da Confederação Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão Palestina, onde deverá reiterar o apoio do Brasil ao reconhecimento da Palestina como um Estado soberano.
A viagem ocorre em um cenário de relações complexas com os Estados Unidos, especialmente após a sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump a produtos brasileiros. Embora um confronto direto seja improvável, espera-se que Lula reafirme a soberania nacional e critique, ainda que indiretamente, medidas protecionistas e unilaterais que afetam a economia global.
Em suma, o discurso do presidente Lula na ONU será um termômetro da ambição do Brasil em reassumir um papel de liderança no cenário internacional. Será a defesa de um país que, ciente de suas próprias contradições, se apresenta ao mundo não apenas com diagnósticos, mas com a disposição de construir soluções coletivas para os dilemas mais urgentes da humanidade.
JARDEL CASSIMIRO