Tensão na CPMI do INSS: Nelson Wilians Recusa Juramento de Verdade e é Confrontado por Relator
O renomado advogado, ao depor como investigado, exerceu seu direito ao silêncio, gerando uma reação imediata do senador Alfredo Gaspar. O episódio eleva a temperatura da comissão que apura fraudes bilionárias na Previdência Social.
Por Jardel Cassimiro | Para a Revista Correio 101 Publicado em 18 de setembro de 2025
Brasília — O clima, que já era de expectativa, rapidamente se converteu em alta voltagem na sala da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O protagonista do dia, o advogado Nelson Wilians, uma das figuras mais proeminentes e poderosas do direito empresarial brasileiro, transformou o que seria um depoimento técnico em um embate direto com os parlamentares ao se recusar a assinar o termo de compromisso de dizer a verdade, um procedimento padrão para testemunhas.
Convocado na condição de investigado, Wilians, amparado por um habeas corpus preventivo, anunciou logo no início da sessão desta quinta-feira, 18, que faria uso do seu direito constitucional de não produzir provas contra si mesmo. A recusa em firmar o juramento, embora legal, foi o estopim para uma dura reação do relator da CPMI, o senador Alfredo Gaspar (União-AL).
Ex-procurador-geral de Justiça de Alagoas e com uma carreira marcada pela atuação no combate ao crime organizado, Gaspar não hesitou em confrontar o advogado. "O senhor, um homem da lei, que conhece os ritos desta Casa e da Justiça, se nega a firmar um compromisso com a verdade perante o Congresso Nacional e o povo brasileiro?", questionou o senador em tom incisivo, enquanto os demais parlamentares observavam a cena em silêncio. "O que o senhor tem a temer, doutor Wilians? A verdade não deveria ser o alicerce da sua profissão?"
A defesa de Wilians argumentou que o ato era uma prerrogativa de qualquer cidadão na posição de investigado e que sua presença na comissão demonstrava respeito ao Poder Legislativo, mas que não se submeteria a um juramento que poderia, em tese, obrigá-lo a se autoincriminar. A troca de farpas estabeleceu um tom combativo para uma investigação que apura um esquema de desvios que pode ter causado um rombo de bilhões de reais aos cofres públicos por meio de fraudes em benefícios previdenciários.
Quem é Nelson Wilians? O Perfil do Advogado no Centro da Investigação
A presença de Nelson Wilians na CPMI não é a de um investigado comum. Ele é o fundador e sócio-diretor do Nelson Wilians Advogados (NWADV), considerado um dos maiores escritórios de advocacia da América Latina, com uma estrutura colossal que emprega milhares de profissionais e possui filiais em todas as capitais brasileiras, além de unidades no exterior.
Nascido em Cianorte, no Paraná, Wilians construiu um verdadeiro império no mundo jurídico. Sua trajetória é frequentemente citada como um caso de sucesso empresarial. Ele iniciou sua carreira em pequenos escritórios até fundar sua própria banca em 1999, focada inicialmente em direito do consumidor para grandes empresas, um modelo de "advocacia de massa" que se mostrou extremamente lucrativo.
Com o tempo, o NWADV expandiu sua atuação para todas as áreas do direito empresarial, atendendo a uma carteira de clientes que inclui algumas das maiores corporações do Brasil e do mundo, nos setores bancário, varejista, industrial e de serviços. O faturamento anual do escritório é estimado na casa dos bilhões de reais.
Além de sua atuação no direito, Wilians é conhecido por sua presença na mídia e pelo estilo de vida sofisticado, sendo frequentemente associado a celebridades e grandes empresários. Sua influência transcende os tribunais, marcando presença nos círculos de poder de Brasília e dos principais centros econômicos do país. É justamente essa rede de influência e a capilaridade de seu escritório que atraíram a atenção dos investigadores da CPMI, que apuram se a estrutura da banca foi utilizada, de alguma forma, para facilitar ou dar aparência de legalidade a operações fraudulentas ligadas ao INSS.
As Implicações do Confronto
O episódio desta quinta-feira tem implicações que vão além do depoimento em si. A atitude de Wilians, embora legalmente defensável, é politicamente custosa. Para os membros da CPMI, a recusa em colaborar abertamente reforça as suspeitas e sinaliza que a investigação pode estar no caminho certo.
Para o relator Alfredo Gaspar, o confronto serviu para demarcar o território da comissão, mostrando que nem mesmo figuras influentes estarão imunes ao escrutínio rigoroso do Congresso. Fontes da CPMI afirmam que a postura de Wilians pode levar a pedidos de quebra de sigilo fiscal e bancário de seus escritórios, intensificando a pressão sobre o advogado e suas empresas.
A sessão foi suspensa após o embate inicial e deve ser retomada com Wilians respondendo apenas às perguntas que sua defesa julgar pertinentes. No entanto, o recado já foi dado. A CPMI do INSS demonstrou que está disposta a enfrentar figuras poderosas em sua busca por respostas, e o depoimento de Nelson Wilians, que mal começou, já se tornou um capítulo crucial e simbólico na complexa teia de interesses que a comissão se propôs a desvendar. O Brasil assiste, atento, aos próximos movimentos deste embate entre a lei, o poder e a busca pela verdade.
JARDEL CASSIMIRO