ANÁLISE: A Estratégia Bumerangue de Eduardo Bolsonaro e o Isolamento do Pai

Agressividade do deputado em Washington e Brasília resulta em denúncia da PGR, perda de espaço na Câmara e, crucialmente, no colapso das negociações por uma solução política para Jair Bolsonaro e os presos do 8 de janeiro.


Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101


Na política, a lei de causa e efeito costuma ser implacável. E, na avaliação da comentarista Ana Flor, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está experimentando essa máxima da forma mais dura, arrastando consigo as perspectivas de uma saída política para seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. O que foi semeado nos corredores do poder em Washington e Brasília nos últimos meses começou a ser colhido em forma de isolamento e reveses concretos.

O ponto de inflexão ocorreu nas últimas 48 horas. A ofensiva de Eduardo Bolsonaro, que envolveu um pesado lobby nos Estados Unidos por sanções contra autoridades brasileiras e uma pressão ostensiva sobre o Congresso por uma anistia, produziu um efeito reverso devastador. A consequência mais imediata foi a denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR), nesta segunda-feira (22), por coação ao Judiciário. Quase simultaneamente, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indeferiu sua indicação para o cargo de líder da Minoria, um movimento que sinaliza sua crescente perda de prestígio e capital político.


O estopim para essa reviravolta foi a mais recente escalada de sua própria estratégia: a inclusão da esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes na lista de sanções da Lei Magnitsky, nos EUA. Embora a aplicação de novas sanções já fosse esperada, a decisão de mirar um familiar de um magistrado foi vista como um ato que extrapolou os limites da disputa política. A medida não apenas indignou o Supremo Tribunal Federal como um todo, mas também implodiu as pontes que vinham sendo cautelosamente construídas no Congresso para uma pacificação.


É aqui que o bumerangue lançado por Eduardo atinge em cheio o ex-presidente Jair Bolsonaro. A articulação política que buscava transformar a controversa proposta de anistia total em um projeto mais palatável — focado na diminuição das penas para os condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro — simplesmente estagnou. Lideranças do Congresso que mediavam essa negociação recuaram, percebendo que o custo de se aliar a uma estratégia tão agressiva e personalista se tornou alto demais.


Ao optar pela confrontação externa e pela ameaça interna, Eduardo Bolsonaro subestimou a capacidade de reação das instituições brasileiras. Em vez de intimidar, sua tática unificou adversários e alienou potenciais aliados. O resultado prático é que, ao tentar salvar o pai por meio da força, ele pode ter fechado a porta para a única via que ainda parecia possível: a da negociação política. O clã Bolsonaro encontra-se agora mais isolado, e o caminho para qualquer tipo de anistia, mais distante do que nunca.

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