Clima Esquenta na CPMI do INSS: Eliziane Gama e Alfredo Gaspar Protagonizam Forte Bate-Boca
Senadora acusa relator de desrespeito e dispara: "Tigrão pra cima de mim agora?". Presidente da comissão determina que a discussão seja retirada dos registros oficiais, mas não consegue apagar a crise exposta.
Por Jardel Cassimiro | Para a Revista Correio 101 Publicado em 18 de setembro de 2025
Brasília — A já tensa sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, realizada nesta quinta-feira, 18, não foi marcada apenas pela recusa do advogado Nelson Wilians em depor sob juramento. As investigações sobre fraudes bilionárias na Previdência foram momentaneamente ofuscadas por um conflito interno, um embate verbal ríspido e direto entre duas figuras centrais da comissão: a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e o relator, senador Alfredo Gaspar (União-AL).
A discussão explodiu quando a senadora Eliziane Gama tomou a palavra e, em um apelo pela ordem, cobrou do colega parlamentar que mantivesse um tratamento respeitoso e isonômico com as mulheres integrantes da comissão. A fala da senadora sugeria um descontentamento com a maneira como os debates vinham sendo conduzidos pelo relator.
A reação de Alfredo Gaspar foi imediata e defensiva. "A senadora deveria me respeitar", retrucou ele, em um tom que elevou a temperatura do ambiente.
Foi o suficiente para que Eliziane Gama, conhecida por sua postura combativa e eloquente, devolvesse a acusação com uma frase que ecoou pela sala e rapidamente ganhou as redes sociais. "Tigrão pra cima de mim agora? Me respeite o senhor, senador. Você pensa que está falando com quem?", disparou a parlamentar, gesticulando e encarando Gaspar diretamente. A expressão "tigrão", uma gíria popular para designar alguém que tenta se impor pela força ou por uma postura intimidadora, selou a gravidade do confronto.
O bate-boca generalizou o mal-estar. Percebendo que a situação fugia ao controle e poderia manchar os trabalhos da CPMI, o presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), interveio de forma enérgica. Ele pediu calma aos colegas e tomou uma decisão regimental para tentar conter os danos à imagem do colegiado: determinou que toda a troca de acusações fosse retirada das notas taquigráficas, o registro oficial e literal de tudo o que é dito nas sessões do Congresso.
Um Conflito Além das Palavras
A decisão de apagar o registro oficial, embora comum em momentos de exaltação no parlamento, revela-se, na prática, uma medida simbólica. Com a sessão sendo transmitida ao vivo e a presença de jornalistas, o confronto foi amplamente documentado e divulgado, expondo uma fissura na base de trabalho da comissão.
O embate entre Gama e Gaspar não pode ser visto como um incidente isolado. Ele reflete as pressões inerentes a uma investigação de grande porte, que mexe com interesses poderosos e expõe políticos a um escrutínio intenso. Alfredo Gaspar, na delicada posição de relator, é o responsável por conduzir a linha principal da investigação, um papel que naturalmente gera atritos. Eliziane Gama, por sua vez, tem se destacado como uma voz ativa na comissão, questionando depoentes e cobrando celeridade e firmeza nas apurações.
A discussão levanta também um debate sobre a dinâmica de gênero nos espaços de poder. A cobrança inicial de Eliziane Gama por "tratamento igualitário às mulheres" toca em um ponto sensível da política brasileira, onde parlamentares mulheres frequentemente relatam a necessidade de se impor contra posturas consideradas desrespeitosas ou paternalistas por parte de colegas homens.
As Consequências para a Investigação
A principal preocupação, agora, é como essa animosidade impactará o andamento da CPMI. A coesão entre os membros, especialmente entre figuras proeminentes como o relator e outros senadores influentes, é fundamental para o sucesso da investigação. Desentendimentos públicos podem ser explorados por investigados e seus advogados como um sinal de fraqueza ou divisão interna.
Fontes de bastidores afirmam que o presidente Carlos Viana deve promover uma reunião a portas fechadas para aparar as arestas entre os dois senadores. No entanto, o episódio desta quinta-feira serve como um alerta: além de desvendar uma complexa rede de corrupção que lesa os cofres públicos e os cidadãos mais vulneráveis, os membros da CPMI terão de lidar com seus próprios conflitos e egos para garantir que a investigação não seja a principal vítima de suas disputas internas.
JARDEL CASSIMIRO