Direção da Câmara decide pedir suspensão do mandato de deputados envolvidos em motim

Em um gesto de autoafirmação institucional após mais de 30 horas de caos, a Mesa Diretora formaliza acusações de quebra de decoro contra Marcos Pollon, Marcel van Hattem e Zé Trovão. O Conselho de Ética agora se torna o palco decisivo para o futuro dos parlamentares e para os limites do protesto no Legislativo.


Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101


BRASÍLIA, DF – A resposta institucional à mais grave crise de insubordinação parlamentar dos últimos anos chegou, e ela foi implacável. Em uma decisão calculada para restaurar a ordem e a autoridade da instituição, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados formalizou, nesta terça-feira (23), o pedido de suspensão dos mandatos de três deputados da ala mais radical da oposição, todos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.


A medida é o ponto culminante de uma semana de altíssima tensão, deflagrada por um motim que paralisou os trabalhos da Casa por mais de 30 horas. Os alvos da cúpula da Câmara são os deputados Marcos Pollon (PL-MS), Marcel van Hattem (Novo-RS) e Zé Trovão (PL-SC). As queixas disciplinares, já encaminhadas ao Conselho de Ética, são robustas e miram diretamente as ações que marcaram o protesto.


Contra Marcos Pollon pesam duas acusações distintas: a mais grave pede 90 dias de suspensão por "declarações difamatórias" contra a liderança da Câmara; a segunda, de 30 dias, é pela obstrução física do acesso do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), à sua cadeira no plenário. Marcel van Hattem e Zé Trovão enfrentam pedidos de suspensão de 30 dias cada um pelo mesmo ato de obstrução, um gesto de desafio simbólico e sem precedentes à liturgia do cargo máximo do Legislativo.


As Raízes do Caos: Protesto e Insurreição

Para entender a dureza da reação, é preciso rebobinar a fita até a semana passada. Em um movimento coordenado, dezenas de deputados de oposição ocuparam o plenário, bloqueando a Mesa Diretora e impedindo qualquer votação. O ato, que se estendeu por mais de um dia e uma noite, tinha duas pautas centrais: forçar a análise de propostas de seu interesse e, principalmente, protestar contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, figura central de seu espectro político.


A ocupação transformou o coração da democracia brasileira em um palco de confronto, com discursos inflamados e o bloqueio físico da cadeira presidencial. A decisão da Mesa Diretora, anunciada na segunda-feira (22), não foi um ato isolado, mas uma chancela ao relatório detalhado e contundente apresentado na sexta-feira pelo corregedor da Câmara, deputado Diego Coronel (PSD-BA), que investigou a conduta dos parlamentares durante o motim.


O Caminho no Conselho de Ética

Com a formalização das queixas, a crise muda de endereço e entra em uma nova fase. Caberá agora ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar analisar as acusações. O colegiado se torna, assim, o árbitro de uma disputa que testará os limites do corporativismo e a disposição da Câmara em punir seus próprios membros por atos considerados atentatórios à dignidade da instituição.


O processo definirá não apenas o destino político imediato dos três deputados, mas também estabelecerá um precedente crucial sobre o que é considerado manifestação política legítima e o que cruza a linha da quebra de decoro. A batalha que se inicia no Conselho de Ética promete ser tão intensa quanto a que se viu no plenário, com o futuro da legislatura e a estabilidade da Câmara em jogo.

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