Estudo Revolucionário Revela que Metformina, Droga para Diabetes, Atua Diretamente no Cérebro



Uma pesquisa do Baylor College of Medicine, publicada na revista Science Advances, desvenda um novo mecanismo de ação para o medicamento usado há mais de 60 anos, abrindo caminho para terapias mais eficazes e direcionadas.


Por Jardel Cassimiro para a Revista Correio 101


Um estudo inovador conduzido por cientistas do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, revelou que a metformina, o medicamento mais prescrito para o tratamento de diabetes tipo 2, exerce seus efeitos de controle glicêmico através de uma via neural até então desconhecida, atuando diretamente no cérebro. A descoberta, publicada nesta quarta-feira (17) na prestigiada revista científica Science Advances, desafia a compreensão de longa data de que a droga agia primariamente no fígado e no intestino.


Durante décadas, a metformina tem sido um pilar no manejo do diabetes, mas seu mecanismo de ação completo permanecia um mistério. A nova pesquisa identifica que o medicamento interfere na atividade de uma proteína específica, chamada Rap1, localizada em uma região do cérebro conhecida como hipotálamo ventromedial (VMH), que funciona como um centro de controle para o metabolismo do corpo.


Os pesquisadores descobriram que, em neurônios do tipo SF1 dentro do VMH, a proteína Rap1, quando ativa, contribui para a elevação dos níveis de glicose no sangue. A metformina funciona inibindo essa proteína, o que, por sua vez, ativa os neurônios SF1 e desencadeia uma cascata de sinais que resulta na redução da glicemia em todo o corpo.


"Essa descoberta muda a forma como pensamos sobre a metformina", afirmou um dos autores do estudo. "Não está funcionando apenas no fígado ou no intestino; está também agindo no cérebro. Descobrimos que, enquanto o fígado e os intestinos precisam de altas concentrações da droga para responder, o cérebro reage a níveis muito mais baixos."


A validação do mecanismo foi realizada por meio de uma série de experimentos rigorosos com camundongos. A equipe observou que injeções de baixas doses de metformina diretamente no cérebro dos animais foram suficientes para reduzir os níveis de glicose no sangue.


De forma conclusiva, em camundongos geneticamente modificados para não possuírem a proteína Rap1 em seus cérebros, a metformina não produziu efeito na redução da glicemia, embora outros medicamentos antidiabéticos continuassem funcionando. Isso demonstrou de forma inequívoca que a ação da metformina depende criticamente dessa via neural específica.


Segundo os autores, esta descoberta não só ajuda a explicar por que um medicamento usado há mais de 60 anos possui efeitos metabólicos tão amplos e benéficos, mas também abre um novo e promissor campo para o desenvolvimento de terapias futuras. O tratamento para o diabetes tipo 2 poderá evoluir para medicamentos mais direcionados, que visem especificamente a via da proteína Rap1 no cérebro, potencialmente oferecendo maior eficácia e menos efeitos colaterais.


Além disso, os pesquisadores planejam investigar se essa mesma sinalização cerebral é responsável por outros benefícios documentados da metformina, como a capacidade de retardar o envelhecimento cerebral e promover a longevidade. A pesquisa estabelece o cérebro como um alvo terapêutico crucial e altamente sensível no combate ao diabetes.

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