Fim de Uma Era na TV Alagoana: Após Batalha no STF, Globo Deixa a TV Gazeta e Sela Parceria com a TV Asa Branca
A decisão do Supremo encerra uma afiliação de quase 50 anos com a emissora ligada a Fernando Collor, redesenhando o mapa da comunicação no estado e marcando a estreia de uma nova operação que transmitirá o sinal da Globo Nordeste.
Por Jardel Cassimiro para a Revista Correio 101
MACEIÓ, Alagoas – O amanhecer deste sábado (27) marcou um ponto de inflexão na história da televisão alagoana, um momento aguardado por anos e selado nos mais altos tribunais do país. Após uma longa e complexa disputa judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) pôs fim a uma era, revogando a decisão que obrigava a TV Globo a manter seu contrato de afiliação com a TV Gazeta de Alagoas, emissora integrante da Organização Arnon de Mello e controlada pela família do ex-presidente Fernando Collor. A partir de sexta-feira (26), o cobiçado sinal da maior emissora do país em Alagoas passou a ter um novo lar: a TV Asa Branca.
A transição, embora selada judicialmente, foi sentida de forma gradual pelos telespectadores. Enquanto a TV Gazeta, em um ato de aparente inércia ou resistência, ainda exibia a programação da Globo nas primeiras horas de sábado, a nova afiliada já se movimentava com agilidade e estratégia. A TV Asa Branca, que se preparava meticulosamente para este momento desde 2023, fez sua estreia oficial nas redes sociais na madrugada, publicando imagens icônicas de Maceió e assumindo, de forma assertiva, sua nova identidade: "a Globo em Alagoas".
A nova operação já está no ar, transmitindo para Maceió pelo canal 28, para Arapiraca e região pelo canal 15.1 e para o sertão, a partir de Delmiro Gouveia, pelo 14.1. A programação veiculada será a da Globo Nordeste, com sede em Pernambuco, o que representa também uma mudança no conteúdo regional que chegará às casas dos alagoanos.
Em nota oficial, a TV Globo confirmou o desfecho da parceria, formalizando a rescisão do contrato com a TV Gazeta e dando as boas-vindas à TV Asa Branca como sua nova representante no estado. Do lado da TV Gazeta, o silêncio prevaleceu. A emissora não emitiu, até o fechamento desta reportagem, qualquer comunicado sobre o futuro de sua programação, que pode seguir com produções locais independentes ou buscar afiliação com outra rede nacional.
A Queda de um Império Midiático
Para entender a magnitude desta mudança, é preciso olhar para a história. A TV Gazeta de Alagoas, fundada em 1975, não era apenas uma emissora de televisão. Por 49 anos, foi a principal janela de Alagoas para o Brasil e do Brasil para Alagoas através do sinal da Globo. Sua afiliação com a rede carioca conferiu-lhe um poder e uma influência inigualáveis no cenário político, social e cultural do estado.
Sob o controle da família Collor, a emissora se tornou um pilar do poderio midiático da Organização Arnon de Mello (OAM). Ser a "Globo em Alagoas" significava ditar pautas, influenciar a opinião pública e deter uma força comercial avassaladora. Seus telejornais locais, como o "ALTV", tornaram-se parte da rotina de gerações de alagoanos, e seus apresentadores, rostos familiares em quase todos os lares.
A perda da concessão não é apenas um revés comercial; é um golpe simbólico profundo. Representa o desmantelamento de uma estrutura de poder que por décadas fundiu comunicação e política, e encerra o capítulo mais duradouro e poderoso da televisão no estado. A batalha judicial travada pela TV Globo para romper o contrato, que se arrastou por anos, reflete um movimento da rede de buscar parceiros alinhados a novas diretrizes de governança e compliance, distanciando-se de figuras políticas controversas.
Agora, a TV Gazeta enfrenta um futuro incerto. Terá de se reinventar, encontrar uma nova identidade e lutar por uma audiência que se acostumou a ver a marca da Globo associada ao seu canal. Para os alagoanos, a mudança representa o início de uma nova era, com a chegada de um novo player, a TV Asa Branca, que promete uma nova forma de fazer televisão, enquanto o antigo gigante assiste ao seu reinado chegar ao fim. O controle remoto nunca teve tanto poder de simbolizar o fim de um tempo e o começo de outro.
JARDEL CASSIMIRO