O Império Sob Suspeita de Nelson Wilians

 

Victor Affaro

Nelson Wilians e seu “uniforme”: terno azul e gravata amarela para homenagear o primeiro traje de trabalho, emprestado do avô.


Investigado por lavagem de dinheiro em fraude bilionária no INSS, o "advogado da ostentação" teve sua mansão vasculhada pela Polícia Federal, que apreendeu de quadros de Di Cavalcanti a um boné trumpista.

Por Jardel Cassimiro


A mansão do advogado Nelson Wilians, um dos mais afortunados do país, foi o alvo central de uma operação da Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (12). No Jardim Europa, bairro nobre de São Paulo, agentes federais encheram viaturas com bens de luxo do advogado, conhecido por exibir sua riqueza nas redes sociais. A suspeita é que seu faustoso patrimônio deriva, em parte, de um esquema bilionário que desviou dinheiro de aposentados e pensionistas do INSS. Entre os itens apreendidos na residência de Wilians, estavam cinco quadros atribuídos ao pintor Di Cavalcanti, cujo valor pode chegar a milhões de reais, pendendo de perícia para confirmar a autenticidade.


A ação que mirou Wilians representa uma nova e explosiva fase da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril. Embora a operação também tenha resultado na prisão de outras duas figuras — Antônio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS", e o empresário Maurício Camisotti —, foi a inclusão do proeminente advogado que marcou o dia. Camisotti controla associações (Ambec, Cebap e Unsbras) acusadas de realizar os descontos indevidos nos contracheques dos beneficiários. As medidas foram autorizadas pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF).


Até então, o nome de Wilians não constava formalmente como investigado, apesar de relatórios do Coaf já apontarem movimentações financeiras suspeitas. Sua entrada no caso eleva o patamar do escândalo, conectando um dos escritórios de advocacia mais poderosos do país, com clientes multimilionários, à engrenagem de fraude. A novidade é a suspeita de que ele atuava diretamente com os operadores do esquema, como o "Careca do INSS", acusado de ser o cérebro financeiro dos desvios, e o próprio Camisotti.


A Polícia Federal trabalha com a hipótese de que Nelson Wilians seja sócio oculto de Maurício Camisotti nas associações que operavam os desvios. A suspeita é sustentada por transações financeiras de pelo menos R$ 28 milhões entre os dois. Para os investigadores, Wilians pode ter utilizado sua estrutura e conhecimento para auxiliar Camisotti a lavar o dinheiro ilícito. No âmbito das mesmas investigações, um ex-sócio de Wilians, o economista Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, também foi alvo de busca e apreensão, tendo uma Ferrari vermelha confiscada pela PF.


A operação na casa de Wilians marca a primeira vez que a investigação alcança uma figura de tamanha visibilidade pública. Se antes o foco estava em personagens de bastidores e associações pouco conhecidas, a apreensão na mansão do advogado expõe o topo da pirâmide social supostamente beneficiada pelo esquema. Além das obras de arte e bebidas de grife, os agentes levaram esculturas de bronze, um rifle e um item que chamou a atenção em sua estante: um boné vermelho com a inscrição Make America great again (MAGA), símbolo dos apoiadores de Donald Trump.


Em nota, a assessoria de imprensa de Wilians afirmou que ele tem colaborado com as autoridades e confia que sua inocência será demonstrada. Segundo a defesa, a relação com Camisotti era estritamente profissional, de advogado e cliente, e os R$ 28 milhões transferidos referem-se à "aquisição de um terreno vizinho à sua residência, transação lícita e de fácil comprovação". A assessoria também garantiu que os quadros de Di Cavalcanti são legítimos.


Enquanto Wilians se defende, a defesa de Maurício Camisotti classificou a prisão de seu cliente como arbitrária. A defesa de Antônio Carlos Camilo Antunes não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.


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