Operação Interestadual Leva à Prisão de Chefe do Comando Vermelho em Praia de Niterói

Ederson Xavier de Lima, o 'Boré', um dos líderes da facção em Mato Grosso, foi localizado e detido enquanto desfrutava de um dia de lazer no Rio de Janeiro, revelando a complexa rede de fuga e monitoramento do crime organizado no país.

Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101

NITERÓI, RJ – A aparente tranquilidade de um domingo de sol na orla de Niterói foi abruptamente interrompida por uma ação policial precisa e estratégica que culminou na prisão de um dos homens mais procurados pela justiça de Mato Grosso. Ederson Xavier de Lima, de 35 anos, mais conhecido pela alcunha de 'Boré', apontado como um dos chefes da facção criminosa Comando Vermelho em seu estado de origem, foi preso em flagrante na tarde do último domingo (28), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A cena, que poderia ser confundida com a de qualquer cidadão em seu momento de lazer, escondia um fugitivo com um extenso histórico criminal. Vídeos registrados no momento da abordagem mostram Boré sentado em uma cadeira de praia, na areia, acompanhado por outros dois homens e consumindo whisky. A normalidade do cenário contrastava com a gravidade de seu prontuário, que inclui pelo menos oito passagens por crimes como tráfico de drogas, receptação, extorsão e organização criminosa.

A captura não foi um ato de acaso, mas o clímax de uma meticulosa operação de inteligência. Fruto de uma investigação conjunta e de uma intensa troca de informações entre a Polícia Civil de Mato Grosso e o Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC) do Rio de Janeiro, a localização de Boré foi precedida por cerca de cinco dias de monitoramento contínuo. Os agentes seguiram seus passos discretamente, aguardando o momento ideal para agir sem colocar em risco os demais frequentadores da praia.

Ao ser abordado, Ederson Xavier de Lima tentou, inicialmente, enganar os policiais apresentando um documento de identidade falso em nome de "Vítor Hugo Fernandes". A tentativa de se passar por outra pessoa, uma tática comum entre foragidos de alta periculosidade, foi rapidamente frustrada pela equipe. Confrontado com as evidências colhidas pela investigação, ele acabou por confessar sua verdadeira identidade. Sobre ele pesava um mandado de prisão expedido pela 13ª Vara Criminal de Cuiabá.

Os dois homens que o acompanhavam na praia também foram detidos em flagrante, autuados pelos crimes de uso de documento falso e receptação, o que sugere que Boré contava com uma rede de apoio para se manter escondido no estado do Rio de Janeiro.

A prisão de 'Boré' é vista pelas autoridades como um golpe significativo na estrutura do Comando Vermelho que atua a partir de Mato Grosso e reforça uma diretriz estratégica das forças de segurança: impedir que o Rio de Janeiro sirva de refúgio para líderes de organizações criminosas de outros estados. A ação demonstra a crescente eficácia da cooperação entre as polícias estaduais, um fator crucial no combate a facções que não conhecem fronteiras geográficas em suas operações ilícitas.

Enquanto o sol se punha sobre a Baía de Guanabara, o destino de um dos criminosos mais procurados do Centro-Oeste brasileiro era selado, não em um confronto violento, mas em uma cadeira de praia, evidenciando que, para a justiça, não há esconderijo seguro.