Ruy Ferraz: A Execução de um Combatente do Crime
Desvendando o assassinato de Ruy Ferraz Fontes e a batalha do Brasil contra o PCC
Por Jardel Cassimiro | Para a Revista Correio 101
Na tarde de 15 de setembro de 2025, na agitada cidade litorânea de Praia Grande, São Paulo, uma cena de suspense de alto risco desenrolou-se em vias públicas. Ruy Ferraz Fontes, um ex-chefe de polícia de 63 anos que passou décadas desmantelando um dos mais formidáveis impérios criminosos da América Latina, foi abatido em uma emboscada audaciosa. Enquanto seu carro colidia com ônibus em uma tentativa desesperada de fuga, três agressores saíram de um veículo perseguidor, desferindo uma chuva de tiros de fuzil — mais de 20 disparos em menos de 40 segundos — que o deixaram morto no local. Testemunhas descreveram o caos: gritos, pedestres dispersos e o cheiro acre de pólvora no ar. Imagens de segurança, posteriormente analisadas por investigadores, capturaram a precisão do ataque: uma perseguição coordenada de 900 metros, um bloqueio tático e uma execução rápida que especialistas chamaram de "coisa de quem sabe".
Este não foi um ato de violência aleatório. Fontes, que se aposentou do serviço policial ativo em 2022 após servir como delegado-geral de São Paulo sob o governo de João Doria, era há muito tempo um espinho no lado do Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção criminosa dominante no Brasil. Os destaques de sua carreira incluem a prisão do chefe do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, há mais de 20 anos, e a denúncia de 2006 que expôs o "organograma" hierárquico do grupo, nomeando líderes como Marcola, Cesinha e Geleião. Essas ações não apenas perturbaram as operações do PCC, mas também desencadearam ondas de retaliação, como os ataques de 2006 contra as forças de segurança que mataram dezenas. O próprio Fontes sobreviveu a um plano de assassinato em 2010, supostamente frustrado pelo então tenente Guilherme Derrite — agora Secretário de Segurança Pública de São Paulo — e enfrentou uma ordem de morte explícita de Marcola em 2019, interceptada em correspondência na prisão.
No entanto, em seu cargo pós-aposentadoria como Secretário de Administração de Praia Grande — cargo que assumiu em 2023 —, Fontes vivia sem escolta ou veículo blindado. Amigos e colegas o descreveram como aliviado por escapar do ambiente intenso de São Paulo para uma vida litorânea "mais calma", chegando cedo e saindo tarde da prefeitura. Apenas duas semanas antes de sua morte, em entrevista à rádio CBN, ele lamentou sua vulnerabilidade: "Eu moro sozinho aqui em Praia Grande, que é território deles [PCC]. Hoje, eu não tenho estrutura alguma". Ele afirmou nunca ter sido ameaçado diretamente, mas reconheceu os riscos de seu trabalho anterior. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo criticou essa falta de proteção, chamando a execução de uma exposição gritante de como o estado trata seus policiais veteranos.
A investigação, iniciada imediatamente após o assassinato, avançou com rapidez incomum. Em 16 de setembro, a polícia de São Paulo identificou dois suspeitos por meio de impressões digitais recuperadas no Jeep Renegade abandonado, um dos dois veículos roubados usados no ataque (o outro, uma Toyota Hilux, foi parcialmente queimado, mas forneceu provas balísticas como carregadores e cartuchos). O primeiro suspeito tem ficha criminal: quatro prisões como adulto (duas por tráfico de drogas, duas por roubo) e delitos juvenis. O secretário Derrite, falando no velório de Fontes na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), prometeu que "todos que participaram deste ataque terrorista serão severamente punidos", enfatizando o rápido trabalho forense da Polícia Civil. Mandados de prisão foram solicitados, mas os nomes permanecem em sigilo para não alertar os perpetradores.
O governador Tarcísio de Freitas, ausente do funeral, mas vocal em declarações, ordenou uma mobilização total, incluindo uma força-tarefa com as polícias Civil e Militar, batalhões especiais e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Informantes inseridos em redes de crime organizado estão sendo acionados, e a assistência federal do Ministério da Justiça e Segurança Pública foi oferecida para reforçar a investigação. Em 17 de setembro, alguns relatos sugerem que um terceiro suspeito foi identificado, embora não confirmado oficialmente.
Embora o envolvimento do PCC seja a principal hipótese — dado o status de Fontes como um dos "principais inimigos" da facção —, autoridades como Derrite pedem cautela contra conclusões prematuras. A unidade de elite do grupo, a Sintonia Restrita, conhecida por atentados de grande repercussão, está sob escrutínio. Motivos alternativos incluem criminosos locais descontentes com as decisões administrativas de Fontes em Praia Grande, que podem ter atrapalhado atividades ilícitas. Especialistas como Rafael Alcadipani, da Fundação Getulio Vargas, descrevem o assassinato como uma demonstração de poder do crime organizado, enquanto o promotor Lincoln Gakiya observou que um dos suspeitos passou um tempo em uma ala de presídio ligada ao PCC.
As táticas do ataque — uso de fuzis, contenção e retirada rápida — ecoam a execução de Vinicius Gritzbach em 2023 no Aeroporto de Guarulhos, alimentando especulações sobre indivíduos treinados, possivelmente até mesmo agentes públicos corruptos. As implicações mais amplas são graves: este incidente ressalta o alcance crescente do PCC, desde suas origens prisionais nos anos 1990 até operações internacionais de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Fundado após um massacre carcerário em 1992, o PCC agora controla vastos territórios, com a morte de Fontes sinalizando uma potencial escalada no ataque a autoridades aposentadas.
A reação pública tem sido intensa. As redes sociais fervem com pedidos de justiça, alguns especulando sobre laços políticos ou falhas do governo, embora sem comprovação. Editoriais, como o da Folha de S.Paulo, pedem uma ação rápida e responsável para combater táticas de medo contra os esforços de combate ao crime. O corpo de Fontes foi enterrado no Cemitério do Morumbi após um velório de grande repercussão, com a presença de policiais e figuras políticas.
Para contextualizar o caso, considere a seguinte linha do tempo de eventos-chave:
Esta linha do tempo, elaborada a partir de relatórios policiais e registros históricos, ilustra um padrão de riscos crescentes sem salvaguardas proporcionais.
A suspeita também recai sobre fatores internos. Relatos de jornalistas como Luiz Bacci sugerem que o PCC pode ter contratado um guarda municipal, e os laços prisionais de um suspeito levantam questões sobre infiltração. Críticos, incluindo figuras da oposição, questionam por que Fontes não estava protegido sob as políticas atuais que permitem que ex-delegados solicitem escoltas. A defesa de Marcola negou envolvimento, citando seu isolamento na prisão.
À medida que a investigação se desenrola, este caso testa a determinação do Brasil contra o crime organizado. Com a influência do PCC se estendendo além das fronteiras — ligada a recentes tiroteios no Rio e redes internacionais —, o assassinato pode encorajar facções se ficar impune. A Adepol Brasil chamou o caso de uma "tragédia para a sociedade", pedindo reformas sistêmicas. Por enquanto, as ruas de Praia Grande são testemunhas silenciosas de uma guerra que está longe de terminar.
JARDEL CASSIMIRO