O Homem Cujas Mãos Desafiavam a Realidade: A Lenda de Danny Hodge
De campeão olímpico a ícone do wrestling, a força sobre-humana de Hodge, capaz de esmagar maçãs aos 80 anos, cimentou seu lugar como um dos atletas mais formidáveis da história.
Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101
Uma imagem vale mais que mil palavras, mas no caso de Danny Hodge, ela representa uma vida inteira de força sobre-humana. A fotografia de Hodge, aos 80 anos, esmagando uma maçã com uma só mão como se fosse uma uva madura, é um testamento duradouro a um dos atletas mais formidáveis do século XX. Aquele aperto de mão, capaz de reduzir uma fruta a suco e polpa, era a marca registrada de um homem cuja carreira atravessou o wrestling amador, o boxe profissional e a luta livre, deixando um legado de domínio absoluto e um rastro de oponentes perplexos.
Falecido em dezembro de 2020, aos 88 anos, Daniel Allen Hodge não foi apenas um lutador; foi uma força da natureza. Nascido e criado em Perry, Oklahoma, ele canalizou uma intensidade bruta para se tornar uma lenda. Sua força, que ele atribuía a uma anomalia genética de "tendões duplos" em suas mãos, era tão notória que podia ofuscar sua técnica impecável. Ele não apenas esmagava maçãs; relatos afirmam que ele podia quebrar alicates de aço com as mãos nuas.
Essa força, no entanto, foi o alicerce sobre o qual ele construiu uma das carreiras mais condecoradas nos esportes de combate.
Um Domínio Incontestável no Wrestling Amador
A jornada de Hodge para a grandeza começou nos tatames de luta livre. Competindo pela Universidade de Oklahoma, seu cartel foi simplesmente perfeito: 46 vitórias e nenhuma derrota. Mais impressionante ainda, 36 dessas vitórias vieram por finalização ("pin"), e ele nunca foi derrubado durante toda a sua carreira universitária. Essa dominância lhe rendeu três campeonatos nacionais da NCAA consecutivos (1955-1957) e um lugar na capa da prestigiada revista Sports Illustrated em 1957, sendo até hoje o único lutador amador a alcançar tal feito.
Sua proeza não se limitou ao cenário universitário. Hodge competiu em duas Olimpíadas, conquistando uma medalha de prata nos Jogos de Melbourne em 1956, em uma final controversa contra o búlgaro Nikola Stanchev, onde uma decisão de imobilização nos últimos segundos o privou do ouro. Seu nome é tão sinônimo de excelência no esporte que o prêmio para o melhor lutador universitário do ano nos Estados Unidos é chamado de "Troféu Dan Hodge", o equivalente ao Troféu Heisman do futebol americano.
A Transição para os Punhos e o Profissionalismo
Após conquistar tudo no wrestling amador, Hodge voltou sua atenção para o boxe. Em 1958, com apenas alguns meses de treinamento, ele venceu o cobiçado campeonato nacional "Golden Gloves" na categoria peso-pesado. Sua carreira como boxeador amador terminou com um recorde impecável de 17 vitórias e nenhuma derrota. Ele se profissionalizou brevemente, acumulando um cartel de 8 vitórias e 2 derrotas antes de encontrar sua vocação final nos ringues da luta livre profissional.
No pro-wrestling, Hodge se tornou uma das maiores estrelas de sua era. Ele foi campeão mundial júnior dos pesos-pesados da NWA (National Wrestling Alliance) por oito vezes, mantendo o título por um total combinado de mais de dez anos, um recorde de longevidade. Sua credibilidade, forjada no fogo do wrestling olímpico e do boxe de luvas de ouro, conferiu uma aura de legitimidade a cada uma de suas performances, tornando-o um adversário temido e um ídolo para o público.
Um Legado de Força e Humildade
A carreira de Hodge foi interrompida abruptamente em 1976 por um grave acidente de carro que resultou em um pescoço quebrado. Mesmo o acidente se tornou parte de sua lenda: conta-se que ele conseguiu sair do carro submerso quebrando a janela e, mesmo gravemente ferido, sobreviveu.
Após sua aposentadoria forçada, Hodge permaneceu uma figura reverenciada no mundo dos esportes. A imagem dele esmagando uma maçã na Câmara dos Representantes de Oklahoma em 2013, aos 80 anos, não foi apenas uma demonstração de força física, mas um símbolo de sua resiliência e do poder duradouro de sua lenda. Ele era a personificação do "homem mais forte do mundo" para gerações de fãs e atletas.
Danny Hodge foi mais do que um campeão em múltiplos esportes. Ele foi um ícone americano, um embaixador da força e da disciplina, cuja vida extraordinária provou que certos legados, assim como seu aperto de mão, simplesmente não perdem o poder com o tempo.
JARDEL CASSIMIRO